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22.7.16

Semanas infernais

Todas as pessoas têm dias ruins. Dormem mal ou acordam "com o pé esquerdo", como diria minha vó. Num típico bad hair day. Num dia de loucura, de maldade, de esquizofrenia total.
Aqui em casa não é diferente, só que este "dia" é sempre uma semana. São cinco dias úteis de loucura, de senhor Saraiva, de kombi lotada, possuída pelo "senhor não".
Assim começou nossa segunda-feira, mais um dia bem frio em São Paulo. Uma guerra para vestir o casaco. E foi assim na terça, na quarta (até ela ver que era o casaco da Minnie), na quinta e na sexta. A quarta-feira foi o dia escolhido para passarmos juntas. Ela não foi à escola e, depois de um curto período aqui no escritório, fomos para a casa da minha vó, onde ela comeu super bem, mas estava bem arisca, não queria papo e nem brincadeiras que não envolvessem ela mesma. Nem bom dia ou boa tarde foram concedidos aos presentes. Um tchauzinho tímido apareceu.
Na quinta, mais um dia de guerra para colocar o casaco, sucedido por uma choradeira digna de Nicholas Sparks para sentar na cadeirinha do carro do vovô. Como o trecho é curto (e eu já estava de saco cheio), ela foi no banco mesmo, grudada em mim. Chegamos na escola, ela deu beijo no vovô e tchau para todos e foi feliz e contente para a sala. A psicóloga nos questionou a respeito do casaco e eu expliquei o que aconteceu. Ela me orientou a dar opções e, enquanto eu explicava que as dou diariamente, meu pai sorria timidamente atrás. 
Ele estava adorando a "rebeldia" da pequena e fez questão de contar alguns de meus feitos à psicóloga. Sim, eu sempre fui questionadora e rebelde, e cheguei a fazer xixi numa fantasia para não ser obrigada a vestí-la. Todos riram e a tensão se foi, mas eu saí de lá predestinada a pensar numa alternativa para restaurar a ordem de comando na minha casa.
Na sexta-feira, novamente começou a guerra pelo casaco e ela se negou a escolher um. Falei para escolher um brinquedo para levarmos para a escola e ela, mais uma vez, disse não. Falei "então vamos embora" e ela retrucou "não quero ir embora". 
Naquele momento, tive uma epifania: "Tá bom, eu vou embora. Tchau, Beatriz." Peguei minha bolsa e a mochila, saí e tranquei a porta. Chamei o elevador, deixei a mochila e subi. Quando abri a porta, chamei novamente e ela repetiu que não queria ir. Começou a jogar coisas no chão. 
Eu a peguei no colo e lhe entreguei a Minnie, que foi arremessada no chão. Fechei a porta, ela reclamou que queria a Minnie, eu abri a porta e ela correu para pegar, mas sentou no sofá. Eu firmemente a peguei no colo, a Minnie foi novamente para o chão, tranquei a porta e descemos de elevador. Tudo isso com ela aos berros. Eu, em momento algum, levantei a voz. No corredor para a garagem, eu coloquei ela no chão para abrir o portão e ela se recusou a levantar.
Fui embora em direção ao carro, com ela chorando no chão. Liguei o carro e comecei a manobrar (o carro fica longe da entrada, então eu tinha plena visão caso ela corresse). Ela entrou em desespero, óbvio, e eu parei o carro. Demos um abraço bem apertado e ela pediu desculpas. Entrou no carro e... pausa para drama... pediu o casaco! Fomos para a escola, ela vestiu o casaco e foi (meio de rancor) para a sala. 
O que eu concluo disso tudo? É difícil manter a calma, muito difícil. É muito difícil educar sem gritar, bater ou xingar. E é lógico que é muito mais fácil dizer "sim" para tudo. Vocês podem até achar que eu fui cruel, maldosa mesmo. Eu discordo, ainda mais porque a Beatriz tem uma dificuldade de compreensão, o que torna a conversa impossível. Eu acho lindo quem fala que conversa com o filho e ele entende tudo, mas isso não funciona sempre em casa. Tem dias que funciona, tem dias que só o argumento de autoridade funciona. 
As crianças têm de entender que existe um adulto e que este adulto dá a palavra final. Que eles podem "fazer o diabo", mas no final a vontade do adulto vai prevalecer. 
E que fique claro: esta situação não acontece nem todo dia, nem todo mês. Mas quando acontece, o resultado é sempre positivo, muito embora eu fique sempre com o coração na mão durante o processo.
Mantenham-se firmes. É só uma fase. Vai passar.
#tamojunta
XO

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