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24.9.15

Preciso falar sobre isso

Já faz algum tempo que eu tenho acompanhado o Blog Temos que falar sobre isso e me emociono muito com os relatos, todos reais. Os de perda gestacional me emocionam muito, vou às lágrimas ao imaginar que isto pode acontecer com qualquer um, e como tive ótimas oportunidades de cuidado na minha gestação e no pós-parto.
Neste momento alguém pode bravejar que eu não poderia reclamar de nada, porque minhas condições sociais me proporcionaram o melhor disponível na medicina e em termos de qualidade de vida gestacional. Tá bom, tá bom, se você pertencer a este grupo, pare de ler este post e vá procurar os blogs de "diquinhas" e de publiposts.
Não estou me desfazendo das condições, mas queria levantar uma bandeira em prol de tantas mães trabalhadoras, que deixaram seus filhos com terceiros e, em muitas vezes, tiveram de interromper a amamentação para retornar ao trabalho. Ou perderam suas carreiras pela gravidez.
Vamos dividir o assunto em partes.
Primeiro, quando a mãe retorna ao trabalho após quatro ou seis meses de licença, é extremamente difícil manter a amamentação exclusiva, se considerarmos apenas os aspectos "bestas": distância entre o trabalho e a creche/casa da vó; falta de estrutura da empresa para receber as mães amamentando; cansaço geral pelo acúmulo da vida profissional com a vida materna com a vida doméstica. Parem para pensar: é fácil?
Esta falta de apoio da comunidade/sociedade com a mulher que amamenta abre espaço para que a indústria de fórmulas infantis se expanda, oferecendo algo que "seria melhor que o leite materno". 
Grude essa mensagem na sua testa: NÃO. EXISTE. NADA. MELHOR. DO. QUE. O. LEITE. MATERNO. Torne seu mantra. 
Eu lutei para amamentar e contei minha história para vocês. Bia tomou fórmula desde sempre e, pasmem, começou a tomar leite de vaca aos oito meses. Alguém gritou aí? Eu ouvi. Calma. O pediatra receitou e seria uma prova de fogo para APLV e intolerância à lactose. Ela toma muito bem o leite (puro, sem qualquer aditivo), e eu só compro aquele de geladeira ou, quando fica difícil, vai a fórmula mesmo. O leite agora não é mais alimento, é conforto.
Segundo lugar, ou segunda bandeira. As advogadas. Diz lá na Constituição que o advogado é indispensável à administração da Justiça. Ou seja, nós somos responsáveis por defender, trocando em miúdos, os direitos das gestantes.
O irônico é que as advogadas gestantes não têm direito algum. Oi? É sério?
Sim. A esperteza que fez o Estatuto do Advogado inseriu um dispositivo que prevê que os advogados empregados só poderiam trabalhar no máximo quatro horas diárias. O resultado? Os grandes escritórios contratam "associados", ou seja, sócios com algo inferior 0,1% do capital social, que não têm os direitos dos funcionários, como a estabilidade da gestante.  
As advogadas que engravidam são sumariamente dispensadas. A OAB não lhes dá nenhum tipo de auxílio. Se elas são contribuintes do INSS, podem pleitear o salário-maternidade e depois tentar implorar que algum escritório as contrate, porque sabemos que muitos não querem mulheres que tenham motivo para voltarem para casa... Existem exceções.
Eu sou autônoma e tive a sorte de me associar com pessoas compreensivas. Trabalhei até o último segundo e retornei após um mês do parto. Corria para amamentar, para atender aos clientes e ir aos Tribunais.
Poderia ter slingado por estes lugares com a pequerrucha (e ela esteve no escritório comigo, coitado do meu sócio), mas nenhum deles têm estrutura para receber as mães, o que entrelaça esta bandeira com a primeira. Um auxílio do órgão de classe - que não se resume à isenção de anuidade - poderia ter trazido um grande benefício.
Nós precisamos falar sobre isto, gente!
Espero que tenham gostado!
XO 

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